É um mistério: na era do culto ao corpo, quando tanta gente sabe nomes de músculos na ponta da língua, o períneo permanece desconhecido e mal aproveitado. Até por aqueles que adoram exibir bíceps, tríceps, quadríceps e glúteos sarados.
Claro, não dá para exibir essa musculatura, mais profunda. Mas será preciso tanta sutileza para lidar com essa estrutura essencial a funções básicas como fazer xixi, sexo ou manter a postura?
“Pouca gente sabe onde é [o períneo]. Há um tabu enorme, já começa no reconhecimento de um lugar que pertence ao seu corpo”, diz a fisioterapeuta Betty Gervitz, especialista em dança e saúde e doutoranda em gerontologia pela Unifesp.
Um sinônimo para períneo é assoalho pélvico. Desse jeito, fica mais fácil imaginar sua localização no corpo. Mesmo assim, não é fácil encontrar esse “chão”. Afinal, ele se mexe, embora a maioria não se dê conta disso.
“O períneo é como qualquer outro músculo, tem que movimentar para não perder a força”, afirma Débora Padua, fisioterapeuta especialista em uroginecologia.
TRABALHO PESADO
Além de pouco usado em movimentos conscientes, o assoalho pélvico tem outra particularidade: é ele que sustenta os órgãos genitais.
O fisioterapeuta Gustavo Sutter Latorre, editor do portal Perineo.net, compara o assoalho pélvico a uma cama elástica que vai do osso púbico ao cóccix. “Só que essa cama não cede ao peso simplesmente, ela faz uma força contrária, empurrando [os órgãos] para cima.”
Na mulher, o trabalho é mais pesado: o assoalho pélvico sustenta mais órgãos (útero, ovários) e, frequentemente, o peso da gravidez.
Exercitar o períneo é bom para homens e mulheres de qualquer idade, mas é um cuidado mais importante para a mulher que já teve filhos, segundo Ana Carolina Basso Schmitt, doutora em saúde pública e fisioterapeuta,
Fazer um treino de força regular é a melhor forma de prevenir problemas futuros, como a incontinência urinária na velhice.
E de ganhar muito no curto prazo. “Exercícios para o períneo deixam a região genital mais bem irrigada, forte, viva”, afirma Latorre.
Todas as práticas de ioga incluem exercícios para o períneo, lembra Anderson Allegro, professor da escola Aruna Yoga, em São Paulo. “O mula bandha, contração sustentada do períneo, é ensinado desde as primeiras aulas. Ele dá o chão para a realização das posturas.”
Na ioga, a base da coluna, onde o períneo se insere, está ligada à kundalini, energia de vida, do despertar, da sexualidade.
“Contrair o períneo regularmente devolve o prazer pela vida. Sexual, sim, mas não é o foco. É vitalidade em geral, para mulheres e homens”, afirma Allegro.
Os exercícios que contraem a região da pelve preservam a saúde dos testículos e da próstata. E podem ajudar a função erétil.
“A musculatura do períneo ajuda o músculo eretor do pênis a atingir o grau máximo de ereção”, diz Latorre.
Nas mulheres, o treino aumenta a lubrificação e a sensibilidade do canal vaginal.
POMPOARISMO
A agente de turismo Júlia, 28, aprendeu a contrair conscientemente o períneo em um curso de pompoarismo. Na técnica, originária da Ásia, bolinhas de metal ou plástico são introduzidas na vagina com a função de halteres, para o desenvolvimento da força e do controle motor dos músculos.
No Brasil, o pompoarismo é mais associado à pornografia ou a “sexo de resultados” (tipo “agarre seu homem”). Mas sua base é a mesma dos exercícios usados em tratamentos fisioterápicos ou em protocolos médicos, como o que o ginecologista norte-americano Arnold Kegel criou nos anos 1940 (os “exercícios de Kegel”).
Bolinhas tailandesas (ben wa) ou cones são usados para praticar contrações e “manobras” –que podem depois ser reproduzidas com o parceiro. “No começo, é difícil contrair, respirar e ainda curtir. Depois, fica gostoso e você quer praticar sempre”, afirma Júlia.
Para quem prefere uma técnica menos “invasiva”, algumas atividades físicas ajudam tanto quanto a arte do pompoarismo no fortalecimento do assoalho pélvico.
CAPA
No pilates, por exemplo, a contração do períneo é sempre solicitada para estabilizar a coluna, segundo Isaías Vieira, coordenador de pilates da academia Bio Ritmo.
“Quando você vai fazer a organização do quadril, contrai o períneo para aproximar os dois ísqueos (ossinhos na parte inferior do quadril) e, depois, o cóccix do osso do púbis. A coluna lombar fica bem posicionada e dá uma base sólida para a organização das outras articulações”, explica Gervitz.
Nas aulas de pilates, além desse acionamento sutil do assoalho pélvico, a contração interna é realizada junto com movimentos maiores, que envolvem outros músculos, como os de elevação da coluna lombar, diz Vieira.
Fazer a báscula do quadril (um balanço para frente) é uma das formas mais fáceis de contrair o períneo. É por isso que a dança do ventre é uma boa atividade para fortalecer o assoalho pélvico.
“Não é só a dança do ventre. O balé também trabalha muito esse encaixe do quadril”, lembra Débora Sabongi, bailarina e professora de dança do ventre.
COORDENAÇÃO FINA
Mesmo assim, a dança oriental é uma das mais indicadas, segundo o fisioterapeuta Latorre. “Ela mobiliza a pelve e desenvolve uma coordenação motora muito fina da região do quadril.”
Já a musculação tradicional, em aparelhos, pouco ou nada faz por essa área do nosso corpo, segundo Luciano D’Elia, educador físico especialista em treinamento funcional. “No treino funcional, ao contrário, a musculatura pélvica, a lombar e a abdominal são o ponto de partida dos exercícios”, diz.
Aula de Pilates na academia Bio Ritmo no Conjunto Nacional; esses exercícios trabalham o músculo do períneo |
“Pouca gente sabe onde é [o períneo]. Há um tabu enorme, já começa no reconhecimento de um lugar que pertence ao seu corpo”, diz a fisioterapeuta Betty Gervitz, especialista em dança e saúde e doutoranda em gerontologia pela Unifesp.
Um sinônimo para períneo é assoalho pélvico. Desse jeito, fica mais fácil imaginar sua localização no corpo. Mesmo assim, não é fácil encontrar esse “chão”. Afinal, ele se mexe, embora a maioria não se dê conta disso.
“O períneo é como qualquer outro músculo, tem que movimentar para não perder a força”, afirma Débora Padua, fisioterapeuta especialista em uroginecologia.
Além de pouco usado em movimentos conscientes, o assoalho pélvico tem outra particularidade: é ele que sustenta os órgãos genitais.
O fisioterapeuta Gustavo Sutter Latorre, editor do portal Perineo.net, compara o assoalho pélvico a uma cama elástica que vai do osso púbico ao cóccix. “Só que essa cama não cede ao peso simplesmente, ela faz uma força contrária, empurrando [os órgãos] para cima.”
Na mulher, o trabalho é mais pesado: o assoalho pélvico sustenta mais órgãos (útero, ovários) e, frequentemente, o peso da gravidez.
Exercitar o períneo é bom para homens e mulheres de qualquer idade, mas é um cuidado mais importante para a mulher que já teve filhos, segundo Ana Carolina Basso Schmitt, doutora em saúde pública e fisioterapeuta,
Fazer um treino de força regular é a melhor forma de prevenir problemas futuros, como a incontinência urinária na velhice.
E de ganhar muito no curto prazo. “Exercícios para o períneo deixam a região genital mais bem irrigada, forte, viva”, afirma Latorre.
Todas as práticas de ioga incluem exercícios para o períneo, lembra Anderson Allegro, professor da escola Aruna Yoga, em São Paulo. “O mula bandha, contração sustentada do períneo, é ensinado desde as primeiras aulas. Ele dá o chão para a realização das posturas.”
Na ioga, a base da coluna, onde o períneo se insere, está ligada à kundalini, energia de vida, do despertar, da sexualidade.
“Contrair o períneo regularmente devolve o prazer pela vida. Sexual, sim, mas não é o foco. É vitalidade em geral, para mulheres e homens”, afirma Allegro.
Os exercícios que contraem a região da pelve preservam a saúde dos testículos e da próstata. E podem ajudar a função erétil.
“A musculatura do períneo ajuda o músculo eretor do pênis a atingir o grau máximo de ereção”, diz Latorre.
Nas mulheres, o treino aumenta a lubrificação e a sensibilidade do canal vaginal.
POMPOARISMO
A agente de turismo Júlia, 28, aprendeu a contrair conscientemente o períneo em um curso de pompoarismo. Na técnica, originária da Ásia, bolinhas de metal ou plástico são introduzidas na vagina com a função de halteres, para o desenvolvimento da força e do controle motor dos músculos.
No Brasil, o pompoarismo é mais associado à pornografia ou a “sexo de resultados” (tipo “agarre seu homem”). Mas sua base é a mesma dos exercícios usados em tratamentos fisioterápicos ou em protocolos médicos, como o que o ginecologista norte-americano Arnold Kegel criou nos anos 1940 (os “exercícios de Kegel”).
Bolinhas tailandesas (ben wa) ou cones são usados para praticar contrações e “manobras” –que podem depois ser reproduzidas com o parceiro. “No começo, é difícil contrair, respirar e ainda curtir. Depois, fica gostoso e você quer praticar sempre”, afirma Júlia.
Para quem prefere uma técnica menos “invasiva”, algumas atividades físicas ajudam tanto quanto a arte do pompoarismo no fortalecimento do assoalho pélvico.
CAPA
No pilates, por exemplo, a contração do períneo é sempre solicitada para estabilizar a coluna, segundo Isaías Vieira, coordenador de pilates da academia Bio Ritmo.
“Quando você vai fazer a organização do quadril, contrai o períneo para aproximar os dois ísqueos (ossinhos na parte inferior do quadril) e, depois, o cóccix do osso do púbis. A coluna lombar fica bem posicionada e dá uma base sólida para a organização das outras articulações”, explica Gervitz.
Nas aulas de pilates, além desse acionamento sutil do assoalho pélvico, a contração interna é realizada junto com movimentos maiores, que envolvem outros músculos, como os de elevação da coluna lombar, diz Vieira.
Fazer a báscula do quadril (um balanço para frente) é uma das formas mais fáceis de contrair o períneo. É por isso que a dança do ventre é uma boa atividade para fortalecer o assoalho pélvico.
“Não é só a dança do ventre. O balé também trabalha muito esse encaixe do quadril”, lembra Débora Sabongi, bailarina e professora de dança do ventre.
COORDENAÇÃO FINA
Mesmo assim, a dança oriental é uma das mais indicadas, segundo o fisioterapeuta Latorre. “Ela mobiliza a pelve e desenvolve uma coordenação motora muito fina da região do quadril.”
Já a musculação tradicional, em aparelhos, pouco ou nada faz por essa área do nosso corpo, segundo Luciano D’Elia, educador físico especialista em treinamento funcional. “No treino funcional, ao contrário, a musculatura pélvica, a lombar e a abdominal são o ponto de partida dos exercícios”, diz.
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